Arqueologia
GROVOS
Castro de Grovios
Tipologia:
Castro romanizado.
Cronologia: Idade do Ferro; Romano.
Acesso:
O acesso ao povoado faz-se a partir do lugar de Caires, por caminho carreteiro, que circunda o monte.
Quadro físico:
O cabeço onde assenta o castro corresponde a um esporão, de vertentes abruptas, situado praticamente na base da encosta Sul do monte de S. Pedro de Fins. A Norte, um profundo talvegue separa o monte de um outro, mais pequeno, onde se encontram também vestígios de ocupação.
Descrição arqueológica :
São perceptíveis 3 linhas de muralhas, que definem outros tantos tabuleiros do povoado. São também visíveis alguns muros circulares e outros rectos, pertencentes a estruturas habitacionais. Na superfície do solo recolheram-se alguns fragmentos de cerâmica indígena , de fabrico micáceo , bem como outros de cerâmica comum romana . O sítio é referido na bibliografia arqueológica desde os princípios do século, devido à descoberta de alguns materiais importantes. Pinho Leal refere o aparecimento, no lugar de Gróvios, localizado na vertente oeste do povoado, de "canos de metal ", tijolos, ânforas e de um possível forno. Dados também como procedentes do sítio, são: um baixo-relevo, em granito, representando uma figura a cavalo, seguramente romana e uma pedra lavrada com um motivo geométrico.
Em prospecções foram encontrados fragmentos de cerâmica da Idade do Ferro e cerâmica comum romana.
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Achado Isolado
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Período: Indeterminado
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Descrição: Terá sido encontrada em Caires uma pedra ornamentada com baixos relevos, que corresponde a uma figura equestre, em granito, de época Lusitano-Romana. Poderá ser proveniente do Castro de Gróvios., que atualmente se encontra no Museu Municipal de Guimarães. Corresponde ao CNS 65.
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Os gróvios (em latim: grovii) eram um povo pré-romano de origem desconhecida. Os gróvios viviam no vale do rio Minho, entre a Galiza e Portus Cale. O seu ópido ("cidade") mais importante era Tude (actual Tui, Galiza). Eram particularmente devotos do deus Turiaco.
Mencionados em as obras de Pompónio Mela, Plinio o Velho, Sílio Itálico e Ptolomeu. Pompónio Mela situa-os geograficamente, na sua obra "De Chorographia" nas terras banhadas pelos rios "Avo", "Celadus", "Nebis", "Minius" e "Límia/Oblivio". Recebe as águas do Rio "Laeros" e do Rio "Ulla", no limite norte. Nas suas terras situa-se o ópido de Lambriaca. Na concepção geográfica de Pompónio, os Gróvios ocupavam conseguintemente, pelo menos, parte das regiões que depois se denominaram Galiza e Entre-Douro-e-Minho. Pompónio Mela considerava todos os povos do noroeste peninsular eram célticos com excepção dos Gróvios. Plínio também não os considerava celtas e propunha uma origem grega.
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GEIRA ROMANA
CIDADE DE BISCAIA (Campo da Bouça)
A Cividade de Biscaia, a 8/9 milhas da mansio Salatiana e a 10 de Bracara Augusta
Tipologia:
Vicus; mansio da milha X da via XVIII.
Cronologia:
Romano.
Descrição:
O sítio localiza-se na plataforma superior e nas encostas Sul e Este de uma pequena colina do lugar de Frecheiro. A zona mais alta é de mata com abundância de pinheiros enquanto que as encostas foram transformadas em socalcos artificiais para a construção de casas e uso agrícola. Segundo informações orais, encontraram-se fragmentos de cerâmica romana, restos de muros em pedra, telha a cerca de 2 m de profundidade, aquando da abertura de uma vala de canalização. Em prospecções nestes terrenos pudemos observar restos de mós, e grandes quantidades de tégula e tijolo, fragmentos de cerâmica comum e ainda vestígios de muros, em cortes feitos em terrenos particulares A extensão dos vestígios, a sua profusão, levam-nos a pôr a hipótese de estarmos em presença da Cividade de Biscaia, um vicus referido pelo Itinerário de Antonino como ficando na milha 10, e que tem sido localizado no Castro de Caires. A localização dos vestígios agora detectados numa encosta suave do vale do Cávado, em local mais propício à passagem de uma via, e a presença do topónimo Cidade de Biscaia precisamente nestes terrenos, levamram a propor que se situe aqui o vicus citado.
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A milha IX encontrar-se-ia junto ao castro de Caires, tendo sido identificados vestígios no local Cidade de Biscaia que indiciam a existência de um vicus com funções de mansio. As milhas X e XI estavam situadas no que hoje é um caminho municipal, chegando a Vila Cova.
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PEDESTAL DE ESTÁTUA
QUINTA DE S. VICENTE
Tipologia: Epigrafia votiva.
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Cronologia:
Pedestal de estátua dedicado ao Génio, datado do séc. I (Romano).
Lugar:
Quinta de Rios de Cima
Quadro físico:
Monumento identificado em 1983, no decorrer do levantamento arqueológico de Amares, realizado pela U.A.U.M. Embora encontrado na Quinta de Rios de Cima, onde pode ser visto, desconhece-se o sítio exacto da sua proveniência, sabendo-se que foi usado como material de construção na capela de S. Vicente, demolida em 1815.
Descrição arqueológica:
Monumento em granito, correspondente ao pedestal de uma estátua, com inscrição latina, dedicado ao Génio. Encontra-se praticamente intacto, evidenciando excelente qualidade de execução dentro dos cânones clássicos. Ara votiva utilizada como pedestal de estátua ao Génio, não possui frontão, nem volutas, ao centro da face superior, plana, existe uma cavidade quadrangular, com moldura rebaixada, que servia para encaixar a estátua da divindade homenageada.
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Dimensões: 39x37; 88x33x31; 33x38.
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Campo epigráfico: 47x33
Inscrição:
Q (uintus). SABI/ NIVS. FLO/ RVS. GEN/ IO. V(otum). S (olvit). L (ibens). M (erito)
"Quinto Sabínio Floro cumpriu de bom grado o voto ao Génio, digno de merecimento".
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Pela tipologia e pelas características paleográficas do texto o monumento datará do séc I da nossa era.
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O Culto ao Génio no Noroeste Peninsular
Q. Sabinius Florus erigiu, no termo de Amares (conventus Bracaraugustanus), uma estátua ao Génio, de que foi identificado, em 1983, o pedestal com a respetiva dedicatória.
A forma do monumento e o facto de o nome do dedicante encabeçar a inscrição provam que, no século 1, ali existiu um importante local de culto. Sabinius é gentilício raro na documentação epigráfica e pode identificar um colono oriundo da Península itálica. A ausência de qualquer epíteto da divindade é índice de avançado grau de romanização.
Ao dar urna panorâmica dos vestígios encontrados no Noroeste peninsular relativos ao culto da divindade tutelar romana Genius, Alain TRANOY (1981, 322) chega à conclusão de que esse culto, tal como os de Fortuna e de Tutela, «não parece ter conhecido particular sucesso» na região.
De facto, seguindo a argumentação daquele historiador, as três aras do conventus Asturum são dedicatórias oficiais, assim como duas de Braga, incluindo a do Genius Macelli (ILER. 547).
Há três Génios invocados como protetores de entidades locais — Laquinensis, Tiauranceaicus e Tongobricensis (TRANOY, 1981, 302) e apenas numa ara o Génio se regista a título privado: o altar que, em Alvarelhos (Sto. Tirso), lhe é dedicado por Saturninus, Caturonis filius (lLER, 543).
(…) A importância da epígrafe de Amares (freguesia de Caires) deriva, justamente, de melhor poder documentar o referido processo de aculturação.
O monumento foi utilizado como material de construção na capela de S. Vicente, demolida em 1815.
Identificou-o, em 1983, José Pedro Ribeiro no decorrer do levantamento arqueológico do concelho: estava encostado a uma das casas da Quinta de Rios de Cima, freguesia de Caires, concelho de Amares, onde ainda (1985) se encontra.
Em granito porfiróide de grão grosseiro (comum na região), o monumento apresenta-se praticamente intacto — ligeiras e insignificantes esmurradelas na molduração do capitel (por exemplo, na face lateral esquerda). Ao centro da face superior, plana, há uma cavidade quadrangular, com moldura rebaixada, que serviu para encaixe de uma estátua, certamente a da divindade homenageada. Sob o plinto diretamente em contacto com a estátua, há, nas quatro faces, uma moldura do tipo garganta encestada seguida de filete direto. O fuste, liso, ostenta a inscrição na sua face dianteira. A base apresenta um filete reverso seguido de moldura do tipo garganta reversa e toro; encaixava num plinto por meio de espigão, rudemente afeiçoado (para mais facilmente agarrar a argamassa) de, aproximadamente, 9 cm de alto. Tipologicamente, um pedestal de muito boa qualidade, bem proporcionado, dentro dos cânones clássicos.
(…) Sabinius é gentilício de que não conhecemos exemplos na Península Ibérica. Formado, certamente, como o seu cognome correspondente Sabinus, a partir do etnónimo Subinum, são inclusive muito poucos os testemunhos da sua ocorrência documentados no mundo romano (cf. “RE, s.v. «Sabinius»): um Q. Sabinius Veranus foi arrendatário de portagens (condutor portorii) na província do ilírico ao tempo de Antonino Pio (CIL III, 4015); C. Furius Sabinius Aquila Timesitheus exerceu funções de prefeito do pretório sob Gordiano (CIL XIII, 1807); Sabinius Barbarus esteve como legado propretor do exército africano no reinado de Trajano.
Conhecem-se três mulheres com este gentilício: Sabinia Felicitas (CIL IV, 31 665); Sabinia Celsina, da ordem senatorial (CH. VIII, 7054); e a mulher de Gordiano 111, Furia Sabinia Tranquillina (RE, s.v. «Furius», n.º 98). Ninguém, portanto, com uma ligação direta a Península.
Por consequência, pelo gentilício seriamos tentados a concluir tratar-se de alguém estranho à Hispânia e mais ligado, quiçá, ao coração da Península Itálica.
A análise do cognome também não é mais significativa. Embora de origem claramente latina, Florus está quase no fim da lista dos dezasseis cognomes mais frequentemente atestados na Galícia romana, apresentada por A. TRANOY (1981, 364). Compulsando os índices da obra de J. Vives (ILER, 695), verificamos, ainda, que a quase totalidade dos exemplos peninsulares (que raia as duas dezenas) se refere a indivíduos com os tria nomina. A. Tranoy cita expressamente, para a Galícia, C. Antonius Florus que fez uma dedicatória às ninfas (ILER, 603) e, dubitativamente, L. Val(erius) Florus, dedicante de um ex-voto à divindade indígena Munidia (1981, 276).
Estamos, pois, também no que se refere ao cognome, perante uma onomástica que não se prende diretamente com a Península nem com o Noroeste, especto que não deixa de ter interesse.
Como já sublinhámos, aqui o Génio é venerado sem qualquer epíteto (…) um marco no processo de romanização. É-o, de facto, porque o dedicante é indígena. Mas idêntica interpretação se não pode dar ao monumento de Amares, porque o dedicante não parece ter, pela onomástica, qualquer ligação com o meio social peninsular.
Nesse caso, como interpretar a dedicatória?
Q. Sabínius Florus é um imigrante, possivelmente um dos colonos com alguns meios financeiros e influência social. Instalou-se, floresceu e rendendo graças ao Génio do lugar que prosperamente o acolheu, indiretamente homenageia o seu Génio que o protegeu.
Indício, portanto, de uma romanização florescente, o (aparentemente singelo) monumento de Caires documenta, assim, de modo particular, a existência de importante local de culto que serviria obviamente um aglomerado populacional relevante. E Q. Sabiníus Florus, consciente ou inconscientemente, desempenhou significativo papel nessa romanização.
Pela tipologia do monumento e pelas características paleográficas do texto estamos em pleno século I da nossa era.
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In "O Culto ao Génio no Noroeste peninsular", Cadernos de Arqueologia, Série II, Volume II - 1985
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